"How PR Works" e "Shocking - or not?" do blogue PR Studies

O blog PR Studies, da responsabilidade de um professor inglês da área das Relações Públicas, procura através do meio virtual questionar e debater algumas questões ligadas à disciplina. Neste sentido, os dois posts escolhidos como objecto de comentário desta nota de leitura, nomeadamente “How PR Works” e “Shocking – or Not?”, publicados respectivamente a 18 e a 24 de Agosto de 2009 (referências apresentadas no final), reflectem sobre a situação actual das Relações Públicas, sobre as suas funções e objectivos no contexto globalizante em que hoje vivemos.

No primeiro post, “How PR Works”, o autor critica a publicitação indirecta de um produto ou empresa através de declarações controversas nos media, apresentadas sob a forma de uma pesquisa credível de forma a atrair a atenção do público, apontando como exemplo um artigo publicado no site “Fresh Business Thinking” em que o presidente do Conselho de Administração de uma empresa de Relações Públicas online, a PR2GO, faz a polémica afirmação de que cerca de 76% daqueles que trabalham nesta área ou em outras que com ela se relacionam não sabem o que são realmente as Relações Públicas. O empresário aproveita de facto para enunciar os serviços prestados pela sua companhia, referindo ainda que esta situação sugere uma incapacidade da parte dos profissionais das Relações Públicas em esclarecer os públicos sobre a sua actividade. Contudo, embora a critica feita pelo autor do blog seja justificada – até porque, como afirma, a actividade de Relações Públicas não passa unicamente pelo meio online, exigindo tal como noutros serviços a intervenção de profissionais a vários níveis – a verdade é que o CEO da PR2GO não deixa de ter também razão ao expor o desconhecimento ainda existente face a esta disciplina.


Este facto é particularmente verdade no nosso país, em que as Relações Públicas têm sido desvalorizadas de forma sistemática. Basta observar como esta profissão continua a não ser reconhecida formalmente no nosso país, ainda que esteja definida na
Classificação Oficial de Profissões, o que acaba por desprestigiar a profissão e contribuir para uma ideia errada sobre a mesma, como refere Avellar Soeiro, pioneiro das Relações Públicas em Portugal, numa entrevista dada a Abílio da Fonseca: “Continuamos, assim, a ver serem recrutadas e nomeadas pessoas para exercerem funções, até de elevada hierarquia, apenas por terem as chamadas boas maneiras e boa apresentação – tanto femininas como masculinas – e, sobretudo por parentescos ou relacionamentos sociais e até por afinidades políticas…”. Como refere o próprio Abílio da Fonseca no mesmo documento, o reconhecimento da profissão apenas contribuiria para “o seu desenvolvimento, a sua responsabilização ética e a sua defesa, nomeadamente o impedimento de quem se intitula, indevidamente, como profissional da especialidade.”

Da mesma forma, tal como o artigo refere, muitos executivos vêem os instrumentos de Relações Públicas de forma redutora ou não entendem a importância dos media e das novas tecnologias neste contexto. A prática das Relações Públicas implica como o autor do blog afirma uma estratégia de acção que, de forma semelhante ao que acontece no planeamento de Marketing, defina os meios a utilizar para chegar ao target desejado, bem como o timing, a forma e o conteúdo das comunicações transmitidas, visando estabelecer relações úteis à empresa e que despertem o interesse dos media e do público.


Uma das razões que pode estar também na origem deste desconhecimento e até descrédito face às Relações Públicas é a questão referida no segundo post “Shocking – or Not?”, que aborda com efeito a forma como muitas vezes esta actividade é vista erradamente como uma prática que visa somente resolver problemas e evitar consequências negativas para a reputação e credibilidade de uma empresa. Centrando-se num artigo do jornal “The Guardian” acerca do uso de serviços de Relações Públicas por parte de alguns países, o autor mostra a sua preocupação com a visão negativa desta disciplina como simples método de propaganda servindo interesses capitalistas, apresentando a visão dos académicos que apontam para novos conceitos de Relações Públicas mais positivos: “Relações Públicas como diplomacia pública e o seu papel na resolução de conflitos”. De facto, é este o tipo de atitude que se deve ter em relação a esta disciplina; além de compreender o seu conceito é preciso começar a perspectivá-la não só como uma forma de gerir e resolver as chamadas “management crysis”, crises de gestão, ou até mesmo de reputação e imagem pública de uma empresa. Como afirma muito bem um outro blog recomendado no contexto desta disciplina, PR Disasters, os “desastres das Relações Públicas” dão-se muitas vezes porque estas não são tidas em conta logo no processo gerencial de uma empresa, levando a que esta área seja desvalorizada. A solução é de facto apostar desde início numa prática correcta das Relações Públicas na construção do plano de gestão de uma empresa, atendendo sempre aos seus objectivos, valores, stakeholders e público em geral, procurando basear-se como afirma o autor no modelo “two-way symmetrical”, o paradigma das Relações Públicas excelentes, para criar relações que se enquadrem na zona “win-win”, ou seja, em que ambas as partes ganham. Esta atitude conduziu a que hoje em dia muitas empresas sobretudo a nível internacional incluam já nos seus conselhos de direcção profissionais da área das Relações Públicas, mostrando a sua preocupação e a actual importância desta área. Em Portugal como já vimos, existe ainda um caminho a percorrer, de modo a que tal como nestes dois posts, esta disciplina possa ser finalmente entendida em todas as suas dimensões enquanto uma actividade mediadora com um forte carácter comunicacional, onde é necessário adoptar uma atitude pró activa, agindo tanto para o exterior como no interior das organizações, ainda que muitas vezes de forma invisível para o público.


Inês Jorge da Silva

Outubro de 2009


Referências Bibliográficas:

· PR Studies, via http://prstudies.typepad.com/weblog/, blog da autoria de Richard Bailey, de onde foram extraídos os dois posts tratados:

· How PR Works”, publicado a 18 de Agosto de 2009, via http://www.prstudies.com/weblog/2009/08/how-pr-works-continued.html;

· Shocking – or not?”, publicado a 24 de Agosto de 2009, via http://www.prstudies.com/weblog/2009/08/shocking-or-not.html;

· “Um pedaço da história – Conversa com Avellar Soeiro, pioneiro das Relações Públicas em Portugal”, entrevista realizada por Abílio da Fonseca, via http://randrade.com.sapo.pt/rpAvellarSoeiro.pdf

· Fresh Business Thinking, via http://www.freshbusinessthinking.com, consultado a 16 de Outubro de 2009.

· “PR groups cash in on Russian conflict”, via http://www.guardian.co.uk/media/2009/aug/24/public-relations-russia-georgia-ketchum, consultado a 16 de Outubro de 2009.

· PR Disasters, via http://prdisasters.com/, consultado a 6 de Outubro.

· PR Conversations, via http://www.prconversations.com/, consultado a 6 de Outubro.

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